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MAI
25
25 MAI 2018
AGRICULTURA E PECUÁRIA
Dia do Trabalhador Rural homenageia mais de 25 Milhões de trabalhadores que põem comida em nossas mesas.
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A transformação de que o campo necessita para dar vida digna a trabalhadores ou pequenos proprietários é essencialmente capitalista

Homens e mulheres no campo: dignidade em harmonia com a natureza

Por Rui Daher 

Demorou um pouco para o conceito de sustentabilidade ultrapassar a barreira do ambiental e da ecologia. Ela que antes de tudo envolve e faz eternizar a espécie humana em suas inter-relações e expressões.

Alimentos, fibras e energia fazem do Brasil um dos mais importantes produtores agropecuários do planeta. Mas como tem sido e está a vida dos homens e mulheres responsáveis por isso? O trabalho  rural.

Embora habite na sociedade contemporânea uma ideologização que restringe o “homem do campo” ao trabalhador rural - homens e mulheres que acordam antes do dia clarear e saem para as lavouras carregando as ferramentas da produção - são também “do campo”, mesmo que morando em centros urbanos, agrônomos, biólogos, técnicos agrícolas, zootécnicos, pesquisadores, vendedores de insumos, empresários do agronegócio, muita gente, enfim.

Também foram do campo, Euclides da Cunha, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Darcy Ribeiro, entre outros, que através de obras seminais criaram o arcabouço antropológico e sociológico capaz de nos fazer entender quem são, somos, esses brasileiros que se aproveitando de nossas condições edafoclimáticas e abundância hídrica. transformaram grandes extensões de terras férteis e não em uma potência agropecuária.

Ao contrário do que propunham esses autores, com o passar do tempo, a discussão sobre a evolução das atividades rurais foi se deslocando para aspectos políticos, econômicos e tecnológicos em detrimento do estudo da cultura e da sociabilidade de seus atores. É o que se percebe em grande parte da sociedade quando, diante das graves dificuldades de sobrevivência do pequeno agricultor, prefere ver na agropecuária uma forma apenas mecanicista de produção, onde o trabalho humano é acessório ou, pior, ausente.

Não tenho a menor esperança de que isso venha a mudar em qualquer futuro. O que deveria ter sido melhor feito ficou lá atrás, fato que não aconteceu nos Estados Unidos e Europa. Agora já era, o que não significa que não possa ser amenizado.

Em Os Parceiros do Rio Bonito (Editora 34, SP, 2003), Antônio Cândido, diz: “Os animais e as plantas não constituem, em si, alimentos do ponto de vista da cultura e da sociedade. É o homem quem os cria como tais, na medida em que os reconhece, seleciona e define”.

No Brasil, as origens desses trabalhadores foram expostas por Darcy Ribeiro, em "O Povo Brasileiro" (Companhia das Letras, SP, 1995). Ainda no século XVI, com o comércio da madeira e os engenhos de açúcar, a Colônia tentava conquistar autonomia engajando o escravo índio ao setor agroexportador. Segundo o autor, dessa célula brotariam as cinco variantes de nossa identidade étnica.

Crioula, a partir dos engenhos de açúcar do Nordeste; cabocla, engajada ao extrativismo amazônico; sertaneja, que espalhou gado do Nordeste ao Cerrado Central; a caipira, que partiu do comércio de índios, chegou à mineração de ouro e diamantes, e se consolidou nas grandes fazendas de café; e a gaúcha, do pastoreio extensivo. A elas, no final do século XIX e primeira metade do século XX, juntaram-se os imigrantes europeus e asiáticos.

Resultado de um processo agrário-mercantil voltado à exportação, que após cinco séculos ainda persiste, o Brasil produtor de alimentos é uma nação de índios, escravos, mamelucos, caboclos, sertanejos e caipiras - oriundi ou não - cada vez mais deslocados de seus locais de origem e trabalho e de suas habilidades e culturas.

Entre 1970 e 2006, a população brasileira praticamente dobrou. Já o pessoal ocupado na atividade agropecuária, diz o Censo Agropecuário 2007, realizado pelo IBGE, caiu de 17,6 milhões (19,0% da população total), em 1970, para 16,5 milhões (8,8% da população), em 2006. Veremos como virá o tão retardado Censo 2017, recém-lançado, segundo ouço, costurado como Frankenstein.

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Esse êxodo das áreas rurais para as urbanas se intensificou, sobretudo, a partir de 1985. Contaram para isso um longo período sem crescimento, a falta de apoio à atividade agrícola em geral e uma visão política e econômica neoliberal equivocada que, ao enfraquecer o Estado, indutor histórico do pequeno agricultor e das culturas que compõem a base da alimentação do brasileiro, acabou por marginalizá-los. Bem mais tarde, veio a mecanização das atividades agrícolas, sobretudo as das culturas de exportação.

Período em que poucos defenderam a necessidade de incentivar quem trabalhava no campo. A sociedade estava impregnada de conceitos que viam ineficiência na ação do Estado e se ocupava em saudar as privatizações.

Hoje em dia, nas Andanças Capitais, percebo a força que se faz para eliminar o trabalhador rural. Não, não falo dele como empregado, mas como lavrador, tirador de leite, cuidadores de pequenos rebanhos, extrativistas unidos em assentamentos, aldeias indígenas e quilombolas.

O folclore os fez jecas-tatus. Concepções que remontam às do escritor paulista Monteiro Lobato ao ver em nossa etnia um cadinho de indolentes, inadaptáveis ao progresso, imagem que nunca mais abandonou o nosso ideário. Adicione-se, ao contrário do ocorrido no setor industrial, o peso político das entidades patrocinadas pelos filhos da aristocracia rural que mantêm visão apenas economicista que impedem a sociedade de tomar conhecimento dos apelos econômicos e culturais manifestados pelos movimentos sociais do campo.

Isso acabou gerando um contundente descompasso entre os resultados econômicos da produção agropecuária brasileira e a sobrevivência digna de grandes parcelas de trabalhadores que ainda vivem no meio rural.

O IBGE, na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, mostra que em 2010 a população brasileira economicamente ativa residia 85% em áreas urbanas e 15% no campo. Dos maiores de 10 anos alfabetizados, 87% estão na zona urbana e 13% na zona rural. Muito, né? Só que no Censo Agropecuário 2006/7 no campo ela atingia 23,5% e 3/4 da população não completaram ensino fundamental.

Entre os anos 2000 e 2010, a população urbana cresceu 17%. A rural caiu 6,5%, taxa de 0,7% ao ano, metade do que aconteceu no período entre os governos militares e neoliberais.

Em 2010, as regiões Norte e Nordeste contavam em seus lares com 94% e 98% de energia elétrica, respectivamente; o abastecimento de água cresceu 5% nas casas brasileiras, enquanto no Norte e Nordeste 7% e 12%. A mesma progressão se deu com o número de banheiros nas regiões mais carentes do Brasil.

Nos dez anos de mudança, quem fez isso melhor está na cadeia, por um triplex numa praia de classe média, detonado, sem escritura passada, e garantidor de dívidas da OAS Construtora de merda, como o balneário em questão.

Vários mecanismos de ajuda e incentivo foram criados nos últimos anos com a intenção de, primeiro, amenizar essa situação e, numa segunda etapa, revertê-la dando ao pequeno produtor a possibilidade de ter moradia, campo de trabalho, apoio para obter produtividade e mercado para vender sua colheita. São, no entanto, constantemente, relativizados ou até condenados pelos representantes do agronegócio.

Hoje em dia, vemos tudo recuar. Programas para agricultura familiar, arranjos locais produtivos, direitos trabalhistas e previdenciários.

De uns tempos para cá, generalizou-se a ideia de que reforma agrária é coisa do passado. Modelo antigo, ineficaz. Apenas distribuir terra de nada adianta. É verdade, mas também mentira, pois ninguém mais prega esse caminho, comprado facilmente por quem deseja apenas apaziguar mentes.

A transformação de que o campo necessita e que irá libertar parcelas de trabalhadores ou pequenos proprietários que ainda não alcançaram um nível de vida digno, é essencialmente capitalista. E implica em aproveitar nossa formação étnica, a vocação agrícola transferida através de gerações, e o desenvolvimento tecnológico já alcançado para fazê-los participar de forma produtiva em nosso estágio de potência.

 

Matéria reproduzida na íntegra. Disponível em: https://goo.gl/7dmA6S

Fonte: Carta Capital
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