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MAI
25
25 MAI 2019
ADMINISTRAÇÃO
Existe argumento que justifique depredar patrimônio histórico para firmar posições políticas?
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Os moradores de Serro acordaram estarrecidos na quarta-feira, 22 de maio de 2019, com o muro da escadaria da Igreja de Santa Rita maldosamente pichado. Infelizmente, nossa cidade tricentenária e seus moradores foram vítimas de uma atitude de vandalismo, com as palavras imperativas: “Fora Herculano” e “Fora Prefeito”.

A agressão à Igreja de Santa Rita atingiu um dos templos religiosos mais antigos do Serro, tombado pelo Patrimônio Histórico e o mais famoso cartão postal do Alto do Jequitinhonha.

De rara beleza arquitetônica e localizada em um dos pontos mais altos da cidade, a igreja foi construída na primeira metade do século 18. O conjunto inclui uma escadaria de 57 degraus, que desemboca na principal Praça de Serro formando um dos cenários urbanos mais fotografados e apreciados da História Colonial de Minas Gerais.

A motivação da pichação supostamente política é fruto de uma discussão pública em curso sobre o pedido da empresa Herculano Mineração ao Conselho Municipal de Desenvolvimento do Meio Ambiente - CODEMA, de autorização prévia para a instalação de uma planta extrativista da mineradora no município, fato amplamente divulgado pela mídia e pelas redes sociais.

Este tema vem se estendendo desde muito tempo, quando a antiga empresa proprietária do terreno teve seu pedido negado pelo CODEMA. Em 2018, a empresa Herculano, que se apresenta como a nova proprietária, reascendeu as pretensões de exploração mineral na região e o CODEMA se manifestou favorável.

Esta discussão acompanhada de manifestações populares pacíficas, legítimas e de procedimentos judiciais, tem divido a população serrana entre os “a favor” e os “contra” a mineração.

Por um lado, estão os defensores da instalação da mineradora em Serro, por a considerarem fonte geradora de emprego, renda e desenvolvimento para a região; e por outro, estão os que advogam ser a planta extrativista comprometedora dos recursos hídricos da região e uma ameaça ao modo de vida e ao modelo de produção das comunidades quilombolas assentadas no entorno da planta mineraria, sendo esta população e sua terra protegidas pela Constituição de 1988 e por tratado internacional do qual o Brasil é signatário.

Independente da análise do mérito, ainda em curso por meio de instrumentos jurídicos e de participação popular, a polêmica quanto ao futuro do Serro, até então, democrática e respeitosa, descambou, a partir desta pichação, para o discurso do ódio, com risco de se caminhar para intransigências e incapacidade de lidar com as divergências, em frontal desacordo com princípios e fundamentos da democracia e da boa convivência política.

O ódio, além de falso argumento político é o precursor da guerra. Dele nasce a polarização da sociedade entre “nós” e “eles”; entre os supostamente “bons” e os presumivelmente “maus” que entre si se declaram inimigos mortais.

A disseminação do ódio compromete a dinâmica relativamente harmônica até então existente entre os membros e grupos da comunidade serrana. Existe em Serro um amálgama social tricentenário, marcado pela boa convivência, a despeito das diferenças de ideias e de posicionamentos políticos, próprias da construção coletiva de sua história.

Quem pensa diferente, não está, necessariamente, em guerra contra o outro. A arte da Política é a capacidade de lidar com a divergência. Ela é a única possibilidade de convivência entre pessoas e grupos e uma das maiores conquistas da humanidade.

O espanto ainda maior com a pichação do muro da Igreja de Santa Rita não se limita à sujeira da tinta em si. Mas, se estende ao que ela expõe como reflexo da apologia da violência e como um cruel desvio de foco nos verdadeiros objetivos usando como retórica as agressões pessoais. Vamos permitir um estado social de guerra na comunidade serrana?

Infelizmente, esta é a realidade que temos assistido, não somente em Serro, mas em todo o país. A ideologia do ódio propagada nas redes sociais, inclusive por instituições oficiais, acaba por contaminar até mesmo as comunidades tradicionalmente pacíficas e civicamente respeitosas, atributos sociais que sempre marcaram a população serrana.

O que assistimos hoje em Serro é a contaminação da lógica perversa do “tudo ou nada”, tratada sob o pretexto de se fazer política, o que não gera resultado positivo para nenhum dos lados, como registra a História universal.

Quem sai ganhando quando se instaura uma nefasta e agressiva moléstia social, onde se extrapola o limite da divergência política democrática?

Preocupa ainda mais a percepção de que os protagonistas da violência da pichação, provavelmente estejam alienados e não tenham sequer noção das dimensões dos seus danos para a saúde social desta comunidade tradicional, que, até então, vive suas divergências democraticamente, mas se mantém coesa em seu todo como comunidade.

Ao poder público cabe o difícil papel de moderador de conflitos, de garantidor do respeito às divergências e a estrita observância da ética com a coisa pública. Responde ele também pela condução dos desígnios da sociedade em consonância com suas aspirações democráticas e soberanas.

E, neste lamentável episódio, compete ao Poder Público o mais absoluto repúdio à agressão ao patrimônio histórico, que revela menos um ativismo político e mais uma degradação humana e social.

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